Nada contra o Nico, mas sempre houve um único guia no inferno. E eu pego o Virgílio como fiz mil vezes antes. Fazia meses que nao encostava nele. Algo entre vergonha e crise do.impostor me manteve longe dele. A música tinha me deixado um gosto amargo na boca. Entre talaricos e aquela arrombada com o ego gigante, eu achei que não havia mais lugar pra mim segurando um baixo. Mas a vida é assim, as coisas sempre encontram o caminho.
São 3 da manhã e eu não preciso ligar o amplificador. Eu sei exatamente o som que estou tirando de cada uma das cinco cordas que tantas vezes me sustentaram quando eu estava prestes a desabar. Tampouco preciso ligar a luz, as discussões com o barão sobe não ser preciso olhar ainda ecoam aqui. Meus mãos se perdem pela falta de prática, mas a sensação de que meus dedos sabem.exatamente onde ir é absurdamente familiar.
Sinto ganas de chorar e peço desculpas pra mim mesmo por ter ficado longe do que sou. E vou colando meus pedacos com escalas dissonantes e água salgada. Deveria ser só um pedaço de madeira com um yin Yang desenhado, mas com ele na mão e muito por causa dele, eu sou maior. Eu sou o vento e a porra do meu trabalho é apagar as chamas pequenas e tornar as grandes ainda maiores.
Há uma fantasma na minha camisa do gremio e um anjo movido a sarcasmo na minha janela. Do meu bloco de rascunhos o diabo me olha de soslaio. E eu nunca vou conseguir agradecer por não terem desistido de mim. Chega de putaria, Tiago. Agora eu que vou jogar e vai ser com as brancas